terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Conselho tem dificuldade em cumprir prazo de seis meses

       

       
Passados nove meses da criação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ainda não é possível estimar quando esse tribunal de disputas tributárias federais vai alcançar a ambiciosa meta de reduzir de 36 meses para seis meses o tempo de julgamento de um processo. As dificuldades são grandes, mas o maior problema ainda é a demora no desenvolvimento de um sistema de informática para unificar os quatro bancos de dados criados pelo antigo Conselho de Contribuintes.

A previsão mais otimista do presidente do Carf, Carlos Alberto Barreto, é ter amplo acesso às informações de todo o estoque de processos em fevereiro e, dessa maneira, poder calcular o tempo que será gasto para cumprir a meta determinada no começo do ano pelo Ministério da Fazenda. "Não há como prever quando o conselho vai alcançar a meta de seis meses para que um recurso seja julgado", admite Barreto.

O Carf tem 12 câmaras e cada uma é integrada por três colegiados. Por sua vez, cada colegiado tem a participação paritária de seis conselheiros - três representantes da Fazenda Nacional e três dos contribuintes. O presidente do colegiado, sempre fazendário, desempata as votações.

O Carf pode ter até 216 conselheiros, mas, atualmente, 13 cadeiras estão vagas no lado dos contribuintes e 34 no lado da administração tributária. Dessas 47 vagas, já há indicações, mas o Comitê de Seleção do órgão ainda não aprovou as recomendações que fará ao ministro. Atualmente, o Carf está com 169 conselheiros trabalhando, número muito próximo dos 172 que havia nos três conselhos de contribuintes.

O Carf foi criado pela Medida Provisória (MP) nº 449 e instalado em março de 2009. A MP foi convertida na Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009. De acordo com Barreto, o Comitê de Seleção foi criado em junho e foi considerado um avanço por dar mais transparência na escolha dos nomes. Além do presidente do Carf, integram o comitê outras quatro pessoas, indicadas pela Receita, Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), confederações e sociedade civil.

A tarefa inicial do Carf - unificar os três Conselhos de Contribuintes e a Câmara Superior - foi dificultada porque, segundo Barreto, cada um tinha um controle próprio dos processos. Eram quatro bancos de dados independentes, com numeração diferente dos recursos. Em fevereiro, foi pedido ao Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) um sistema mais robusto, mas o presidente do Carf admite que seu desenvolvimento está atrasado.

A partir de janeiro, o Carf começa a atuar com processos eletrônicos, dispensando o papel para esses casos. O estoque atual é de 66 mil recursos sem julgamento. Um terço é de matéria previdenciária. Aproximadamente 20% deles estão em fase adiantada, mas o tempo médio para que um recurso seja julgado é de 36 meses.

Além das primeiras dificuldades operacionais que Barreto encontrou, há outro assunto que vem provocando polêmica entre os conselheiros. Está no Congresso Nacional, no âmbito de um pacote mais amplo de normas tributárias, a proposta do Executivo para remunerar os conselheiros. O salário seria igual ao de um auditor da Receita Federal, algo próximo dos R$ 19 mil. O impacto nas despesas seria de aproximadamente R$ 4 milhões por mês. A lei permite que um conselheiro fique no Carf por até nove anos - três mandatos seguidos.

Com o início dos pagamentos, seria exigida dedicação exclusiva, com proibição do exercício da advocacia. Por um lado, há quem acredite que essa mudança ajude a reduzir o tempo de julgamento dos recursos, uma vez que os conselheiros teriam que dedicar mais tempo ao Carf. Mas Barreto afirma que a maior parte dos representantes dos contribuintes não quer dedicação exclusiva porque teriam que deixar seus escritórios.

Arnaldo Galvão, de Brasília
   

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